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Amigos criam Netflix das HQs e recebem aporte de R$ 2 mi

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Loja de quadrinhos: o Social Comics quer revolucionar a experiência do usuário em um mercado tradicional

São Paulo – Os serviços por assinatura à la Netflix tem se espalhado pelos mais diversos segmentos. Agora, o modelo chegou também ao mundo das histórias em quadrinhos. Apaixonado por HQs, o paraibano João Paulo Sette queria há tempos criar um negócio neste setor e viu no modelo da empresa americana uma possibilidade valiosa. Surgia assim o Social Comics, serviço brasileiro de assinatura de quadrinhos que já tem 3 mil assinantes.

Sette conhece bem o mundo da cultura pop. Além de ser dono de uma agência de publicidade, é diretor de operações da Comic-Con Experience (CCXP), feira de HQs, cinema e games inspirada na icônica convenção americana. Mesmo com toda essa experiência, chegar à ideia da Social Comics não foi simples.

O primeiro projeto do empreendedor no ramo dos quadrinhos foi uma rede social para quem tem interesse nessas publicações. Dois amigos de Sette se juntaram à ideia: Marcelo Castro e Fernando Goulart. “Nós nos reunimos por quase dois anos por meio do Skype, para planejar o lançamento dessa nova empresa. Eu estava em João Pessoa, Marcelo estava em São Paulo e Fernando estava na Flórida”, explica o empreendedor. Depois de alguns meses de operação, Marcelo Bouhid entrou para o negócio como diretor de marketing, totalizando os atuais quatro sócios do empreendimento.

Após fazer uma pesquisa de mercado e conversar com outros empresários, o plano de negócios do Social Comics foi transformado: de rede social, passou para um modelo de assinatura mensal de quadrinhos via streaming. O lançamento ao público aconteceu em agosto de 2015 e logo o negócio se mostrou promissor – foram necessários apenas alguns meses para que o Social Comics recebesse um belo aporte do site Omelete no valor 2 milhões de reais.

Como funciona?

O modelo de negócios é totalmente inspirado em serviços como o da Netflix. “Nosso benchmarking [comparação com outras empresas e incorporação de boas práticas] foi todo baseado no serviço de assinatura. Olhamos principalmente a Netflix e na experiência que ela proporciona ao usuário, mas estudamos também os modelos do Spotify e do PlayKids, por exemplo.”

O usuário que faz o cadastro no Social Comics possui 14 dias para testar o serviço. Para ler as obras, é necessário ter uma conexão à internet, mas é possível salvar o título para ler depois de forma offline – mais ou menos como o Spotify faz com suas músicas.

A assinatura mensal custa 19,90 reais. Sette conta que chegou a esse valor por meio de estimativas do quanto os consumidores gastam com os quadrinhos físicos. “No Brasil de hoje, 60% das pessoas que compram quadrinhos investem até 20 reais por mês nisso, enquanto os outros 40% investem mais. Ou seja, pelo preço de um quadrinho nossos clientes podem acessar diversas obras”, explica.

Essa estratégia de negócios tem como diferencial dar uma nova roupagem para um mercado tradicional. “O consumidor só compra o quadrinho físico se gostar da história que leu, sem arriscar. Esse é o futuro das HQs: elas não vão acabar, mas se tornarão um item de colecionador.”

O negócio funciona tanto na web quanto em aplicativos para Android e iOS. A versão para Windows Phone deve ser inaugurada daqui a dois meses.

Autores e editoras

Hoje, o Social Comics tem 1.800 títulos disponíveis e 3 mil assinantes. Até o final de 2015 – ou seja, quatro meses de operação –, 580 mil páginas já haviam sido lidas. Sette ressalta que é um bom resultado, considerando-se que as duas editoras mais populares do ramo ainda não estão no site: a DC e a Marvel. “Já estamos conversando com eles sobre isso, mas ainda não há uma previsão – por serem parceiros internacionais, há uma série de contratos e burocracias.”

O empreendedor ressalta que o negócio já conta com grandes editoras de HQs e mangás, como Dark Horse, JBC, Mauricio de Sousa, Nemo e Valiant. Algumas obras muito acessadas são Garfield, Moebius e Snoopy (as obras da Turma da Mônica estão sendo subidas aos poucos na plataforma, num processo que deve terminar no mês que vem).

Os títulos de artistas independentes costumam ficar entre os mais lidos também. “Assim como qualquer editora, eles podem subir seu conteúdo na plataforma e divulgar seu trabalho. Temos exemplos de autores que conseguiram uma editora depois de divulgarem seu trabalho no Social Comics”, conta Sette.

Do valor da assinatura, 30% fica com a plataforma e os outros 70% são distribuídos entre as editoras e os autores independentes, de acordo com o número de visualizações. Ou seja: quanto mais obras cada parceiro subir ao site, maiores as chances de ele faturar.

Outra aposta da Social Comics é a elaboração de um Business Inteligence – uma coleta de dados que beneficie empresas do setor. Autores e editores da indústria dos quadrinhos cadastrados na plataforma podem visualizar quais obras suas foram mais visualizadas por faixa etária, horário, região e sexo, por exemplo, ou ver em qual página o usuário parou sua leitura.

“O cliente consegue ter dados estatísticos fiéis sobre a demanda real das obras e, em cima disso, pode desenvolver um negócio ou melhorar processos”, explica Sette. Não há um custo adicional para acessar as informações, mas é preciso comprometer-se a ficar ao menos um ano com a obra dentro do serviço.

Planos

Inicialmente, o Social Comics publicava aquilo que as editoras parceiras já publicaram, apenas passando o que já existia no meio físico para o digital. Porém, aos poucos o serviço tem trazido conteúdos exclusivos.

“Queremos apostar nesse conteúdo de editoras que ainda não possuem nenhum licenciante no Brasil. Além das americanas, estamos conversando com grandes empresas do Japão”, diz Setti. “Também queremos investir em artistas independentes e em quadrinhos próprios, com autores que fazem obras exclusivas para nós.”

Aumentar a base de quadrinhos é a primeira estratégia do negócio para este ano. O segundo passo é melhorar a experiência do usuário no desktop e no celular. Por fim, haverá um foco em divulgação do serviço. “Temos facilmente 5 milhões de leitores de quadrinhos assíduos no Brasil – aqueles que gastam mais de 20 reais todo mês. Não chegamos nem perto disso ainda em número de usuários”, conta Setti.

Em 2017, o Social Comics pretende expandir internacionalmente, especialmente para a América Latina e depois para os EUA. “Nosso relacionamento com editoras internacionais facilita nossa expansão”, afirma o empreendedor.

Mariana Fonseca, de EXAME.com

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